Museu do Relógio reabre mais… nobre!
O Museu do Relógio em Serpa em Portugal, reabrirá as suas portas ao público na próxima 3ªF (dia 26) após ter estado encerrado desde o dia 17 de Março devido à pandemia Covid19 e ao estado de contingência que esteve em vigor. A família Tavares d’Almeida, proprietária do Museu, definiu aproveitar a fragilidade e limitações da pandemia numa oportunidade: renovar e rejuvenescer o Museu com uma nova disposição dos mais de 2000 relógios mecânicos expostos, pintura das salas, renovar iluminação e regalar ao Museu uma nova sala para exposição permanente onde antes era o escritório do Museu. Poderia ser “mais uma sala”… mas trata-se de uma das mais nobres salas do Convento do Mosteirinho, edifício do Séc. XVII onde está sedeado o Museu, na qual na sua abóboda se encontrava um imponente brasão de armas em estado parcialmente degradado e desgastado pelo tempo e pelas imensas intervenções (obras, pinturas) que a sala teve ao longo de três séculos. Durante mais de três anos o Diretor do Museu – Eugénio Tavares d’Almeida – procurou investigar o conteúdo e história do brasão que diariamente estava sobre si no seu escritório, e após algumas visitas de especialistas em heráldica e na área de conservação e restauro, reconfirmou-se que o mesmo tratava-se do brasão de armas da família dos Bocarro,de Beja, que no século XVII foi das famílias mais poderosas do sul de Portugal e que em 1620 terá sida o principal “mecenas” para a construção do Convento do Mosteirinho, tendo ficado numa das entradas interiores do edifício o seu brasão de armas para eternizar o nobre gesto. Ironicamente esta família no final de 1600’s viria a ser convidada a sair do Reino, presseguida e alguns até exterminados pela Inquisição, tendo o seu nome e referências edificadas “apagadas da história” e os seus bens e património confiscados pela Igreja. O Mosteirinho continuou como Convento de freiras até 1834, ano em que ocorreram a extinção das ordens religiosas, e foi quando um antepassado do fundador do Museu adquiriu o mesmo em hasta pública… e ainda hoje pertence á mesma família, onde 10 das suas 40 divisões albergam o Museu do Relógio.
Mais difícil que encontrar a história e conteúdo do brasão dos Bocarro, foi encontrar alguém para o restaurar, e foi em Gondomar que o Diretor do Museu foi encontrar o artista plástico Micaelo e o convidou a aceitar o desafio do restauro desta obra de arte no ano em que a mesma faz 400 anos! O artista habituado a restaurar e pintar frescos de arte sacra em paredes e tectos de igrejas, capelas e palácios, prontamente aceitou o repto e no passado dia 18 de Maio, coincidência de ser o Dia Internacional dos Museus, o brasão estava restaurado após dois longos dias do pintor a 3 metros de altura em cima de um andaime!
Assim, após o restauro de todas as paredes e tectos, sistema de iluminação e decoração, o Museu disponibilizará nesta nova sala o seu relógio mais raro – um relógio de mesa inglês também do Séc.XVII – que estará ao centro da sala mesmo abaixo do brasão, e todas as paredes estão disponibilizadas exclusivamente com relógios de bolso… mais precisamente 320 relógios de bolso desde 1676 até 1900!
O Museu do Relógio celebra este ano os seus 25 anos (1995>2020) e foi um projeto romântico do seu fundador António Tavares d’Almeida (1948-2012) que coleccionou relógios durante quase 40 anos, tendo iniciado a sua coleção com três relógios de bolso avariados que herdou do seu avô e viria a abrir o Museu com perto de 700 relógios. Hoje o Museu tem uma estrutura solidificada e a sua coleção conta com mais de 2.600 relógios fraccionados entre o Museu principal em Serpa e ainda o Pólo de Évora, onde o Museu abriu uma extensão da sua coleção no imponente Palácio Barrocal, junto á Praça do Giraldo.
Neste período em que muitas famílias procuram locais de passeio e férias de nicho em deterimento dos locais de massa, fica mais um estímulo turistico-cultural de uma escapadinha até Serpa…