ENTREVISTA – SEBASTIÃO MARTINS VIEIRA, DA RAVIL CANETAS

Fonte: Arquivo da Revista pulso – edição 106

SEBASTIÃO MARTINS VIEIRA

Após 16 anos, voltamos a entrevistar Sebastião Martins Vieira, da Ravil Canetas, provavelmente a pessoa no Brasil que mais conhece a história dos instrumentos de escrita

  1. Você é uma das pessoas que mais entendem de canetas no Brasil. Há quantos anos trabalha nesse mercado específico?

Desde 16 de junho de 1954, quando tinha 13 anos de idade. Inicialmente comecei trabalhando como office-boy, realizava pequenos serviços para a empresa. Posteriormente, fui alcançando mais espaço até que, em abril de 1986, tornei-me proprietário, em um negócio feito “de pai para filho”, já que o antigo proprietário havia completado 75 anos de idade e decidiu se aposentar.

2.      Qual é a sua opinião sobre o segmento de instrumentos de escrita de luxo atualmente em nosso país?

Devido a uma série de fatores, sobretudo de ordem econômica, dado que estamos vivendo uma crise que não vem de hoje, este segmento sofreu uma queda significativa, muito embora ainda permaneça forte em nosso país.

3.      Além da Ravil Canetas, são muito poucas as lojas especializadas no Brasil. As grandes marcas os apoiam de alguma forma?

Recebemos muito pouco incentivo das grandes marcas de canetas e, no final, é o comerciante que acaba assumindo o papel de difundi-las ao comprar o seu produto e ao dar um destaque especial em sua vitrine, ou seja, o varejista é o grande responsável pelo êxito de determinadas marcas.

4.     Como você agiria com os revendedores se não fosse o proprietário da Ravil, mas trabalhasse para uma marca grande de instrumentos de escrita? O que faria de diferente do que é feito hoje?

Procuraria evidenciar as qualidades dessa grande marca e de seus produtos, e tentaria expandir o segmento não somente para as poucas lojas especializadas, como também para outros estabelecimentos que podem dialogar perfeitamente com o ramo, promovendo grande destaque e maior poder de divulgação.

5.      Em sua opinião, o fato de a Ravil ser uma das pouquíssimas lojas especializadas em instrumentos de escrita foi o que mais ajudou a permanecer no mercado por tanto tempo e a manter uma clientela muito fiel?

Indiscutivelmente que sim, afinal, são 62 anos de existência que estabeleceram uma relação de confiança entre a Ravil Canetas e os consumidores, algo que passa de geração para geração. Recebemos clientes que sempre comentam sobre quando vinham à loja, desde a infância, com seus pais, e hoje os mesmos clientes muitas vezes trazem seus filhos ou netos.

6.     Você acredita que ainda exista espaço para novos players em nosso mercado de luxo? Afinal, a Montblanc domina esse segmento com grande folga, não é?

Realmente, a Montblanc domina esse segmento, pois sempre está inovando com lançamentos e ofertando ao público opções de diversos produtos dentro de uma mesma marca, o que passa ao cliente final uma sensação de completude. Fora isso, ainda existe a questão do marketing da marca, que é muito eficiente.

Todavia, existe sim a possibilidade de novas marcas ingressarem no mercado e conquistarem o seu espaço. Isso é algo que vejo como absolutamente compatível com a nossa realidade.

7.      Seu filho Lucas está à frente da marca italiana Visconti no Brasil, correto? Como está sendo a aceitação entre os revendedores? Quais as principais dificuldades no trabalho com uma marca como a Visconti em nosso mercado?

A aceitação tem sido boa e hoje a Visconti já é mais conhecida do que quando chegou ao Brasil, em 2012, até porque a quantidade de varejistas que se dedicam à venda da marca subiu consideravelmente. A principal dificuldade que observo — que é algo que não ocorre somente com a Visconti, mas com todas as outras marcas de caneta — é, novamente, a questão econômico-financeira, que faz com que o público consuma menos em determinados períodos pontuais.

8.      Como você vê o futuro das canetas de alto valor agregado em um mundo cada vez mais digital?

Vejo que este futuro não será significativamente alterado, uma vez que a escrita foi o marco de início daquilo que se convencionou chamar de “História”. Portanto, em minha opinião, a era digital veio para complementar o ramo de instrumentos de escrita, e não para anulá-lo.

9.     Existe algo que possa ser feito para que a arte da escrita com canetas-tinteiro não morra?

A arte da escrita com canetas-tinteiro vem conquistando novos espaços, sobretudo entre jovens e entre pessoas que nunca tiveram a oportunidade de utilizar esse tipo de objeto. Vejo com grande felicidade que o ramo possa conquistar, ainda hoje, um público cada vez mais renovado, em sintonia com a opção de escolha de canetas para diversos gostos e bolsos.

https://loja.revistapulso.com.br/revista-pulso-edicao-106-setembrooutubro-2016

Deixe um comentário